Ontem, eu tive uma bela tarde de andanças em Porto Alegre. Precisava resolver alguns problemas ou, ao menos, esquecer deles. Não no sentido de ignorá-los, pois assim jamais serão solucionados, mas me permitindo ter e viver uma bela tarde de andanças, sem eles! Um dia do tipo "me deixa, que hoje eu tô de bobeira"!!!
Alguns dizem que sou um cara desligado, desatento. Mas ontem eu observei tudo ao meu redor.
Os carros, os edifícios - que segundo Chico Sciense "cresceram com a força de pedreiros suicidas" - e, sobretudo, as pessoas. Andando, consumindo, sorrindo, vendendo. Negras, brancas, jovens, punks. Altas, magras, cabeludas. Estranhas. A Pitty diria que o "importante é ser você! Mesmo que seja estranho, bizarro". E eu concordo. Cada uma das pessoas que eu via era um universo particular. Mesmo compartilhando condições universais em comum.
Dentre os muitos rostos que vi, me recordo especialmente de um. Ela estava comendo restos de comida numa lixeira da rua Voluntários da Pátria. Alta, gorda, olhos e cabelos castanhos. Senhora idosa. Com marcas e expressões de uma vida sofrida. Eu não senti pena dela. Eu tenho orgulho dos que lutam no Brasil. Eu sei que a maioria dos universos particulares está submetida à imposições universais, vindas de outros universos.Com outros interesses.
Eu apenas fiquei pensando, ou melhor, me questionando: quais os sonhos que ela tem? Quanto sofrimento ela já passou? Quantas alegrias ela já teve?Quantas coisas ela já quis muito fazer? O que ela mais gosta na vida? O que a faz chorar? Será que ela sabe que existe comida pra todas as pessoas do mundo? Eu acho que nunca vou saber ao certo. Mas é bom se questionar pra melhor compreender o mundo, os universos, as pessoas.
Eu sei que aquela senhora era um universo particular. Mas sei também que a condição dela, naquele momento, era a mesma de muitos outros universos particulares que, qualquer um, a qualquer hora do dia ou da noite, pode observar nas andanças que faz em Porto Alegre.
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