terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Cidadãos

"Tá vendo aquele edifício moço
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas prá ir, duas prá voltar
Hoje depois dele pronto
Olho prá cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz desconfiado
"Tu tá aí admirado?
Ou tá querendo roubar?"
Meu domingo tá perdido
Vou prá casa entristecido
Dá vontade de beber
E prá aumentar meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer...

Tá vendo aquele colégio moço
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento
Ajudei a rebocar
Minha filha inocente
Vem prá mim toda contente
"Pai vou me matricular"
Mas me diz um cidadão:
"Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar"
Essa dor doeu mais forte
Por que é que eu deixei o norte
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava
Mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer...

Tá vendo aquela igreja moço
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá foi que valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse:
"Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asa
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar"

Esta bela música do Zé Ramalho faz a gente refletir sobre um conceito importante do marxismo. O conceito de alienação em Marx.

Marx disse que os trabalhadores estão alienados daquilo que produzem, de seu próprio trabalho. E é a mais pura verdade! Não? Olhem ao redor de vocês agora. Então? Pois é...tudo é resultado de trabalho. Trabalho de homens e mulheres. Quem constrói os edifícios, os automóveis, os refrigeradores, os computadores, as roupas, as máquinas? Quem cuida das pessoas doentes, quem educa a nossa juventude, quem dirige o ônibus que nos leva pro nosso emprego? Os trabalhadores estão em todos os lugares, em todas as nações. Nas escolas, nos hospitais, nos teatros, nas indústrias. Embalam tanta comida e, ao mesmo tempo, passam fome. Constroem as casas e, muitas vezes, dormem nas ruas. Limpam as salas de cinema sem, talvez, nunca na vida terem assistido um filme ali. Quanto de todo esse trabalho fica com eles? Quanto de todo esse suor é prazer? E é justo?

Eu acho que quem edifica a vida é quem trabalha. Por isso, precisamos valorizar cada vez mais os que trabalham, para que haja vida. Garantir que eles usufruam do resultado de seu trabalho. Afinal de contas, eles já produzem o suficiente para que todos fiquem satisfeitos. O problema é que muitos trabalham para que poucos se satisfaçam. Os trabalhadores precisam se unir para fazer valer o seu suor, suas vidas.

Uma vida sem alienação. Nossas vidas pela libertação.


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