segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Sozinho

Nunca fui, na infância, como os outros
e nunca ví como os outros viam.
Minhas paixões eu não podia tirar de fonte igual a deles;
e era outra a origem da tristeza,
e era outro o canto que acordava o coração para a alegria.
Tudo que amei, amei sozinho.
Assim na minha infância,
na Alba da tormentosa vida, ergueu-se,
no bem, no mal, de cada abismo, a encadear-me,
o meu mistério.
Veio dos rios, veio da fonte,
da rubra escarpa da montanha, do sol,
que todo me envolvia em outonais clarões dourados;
e dos relâmpagos vermelhos que o céu inteiro incendiavam e do trovão,
da tempestade, daquela nuvem que se alterava, só,
no amplo azul do céu puríssimo,
como um demônio ante meus olhos.

Edgar Alan Poe

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